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sexta-feira, 11 de março de 2011

O DIA DO LAMENTO

A chamada "quarta-feira de cinzas", tradicional dia  religioso no calendário da Igreja Católica, deveria ser denominada de "O DIA DO LAMENTO".

Seria o dia em que muitos pais poderiam prantear seus filhos mortos de forma prematura em inúmeros acidentes perfeitamente evitáveis.  E a QUARESMA, que dura quarenta dias, daria a estes pais tempo  suficiente para que seus lutos emocionais e suas feridas psicológicas pelo menos diminuissem de intensidade.

A "quarta feira de cinzas" deveria ser um dia realmente cinzento: um dia de luto. Luto por  todos aqueles que se esqueceram do valor da prudencia e se atiraram afoitamente à um  entusiasmo sem o  suporte da reflexão e não puderam mais voltar para casa.
                               
Neste dia de luto todos seriam convidados a repensar sobre o preço altíssimo que se paga numa cultura como a nossa que prioriza demasiadamente o valor de uma "alegria" que parece romper todos os limites que nos impedem  de sermos felizes de forma simples e continuada.
                               
Para muitas mentes não habituadas a repensar o valor dos limites humanos, a "alegria"  carnavalesca se parece com o estado de consciência alterada  proporcionado pelas drogas alucinógenas.  Estas últimas são consideradas ilegais, enquanto a outra  forma de "entorpecente"  foi institucionalizada há muitos anos. 
                               
Muitos outros experimentam a euforia de uma aparente liberdade onde os deveres sociais, impostos em forma de leis, são plenamente desconsiderados.    Rompem-se as linhas demarcatórias do convencionalismo comportamental para que sejam experimentados todos os impulsos que durante o decorrer do ano, ficaram cerceados por uma vigilância moralista, mas não moralizante.
                               
Milhares de pessoas emocionalmente frágeis ainda precisam experimentar a sensação fornecida pelo contato com grandes grupos humanos. Parece que se pode voltar para um enorme "útero" que abriga em sí diversificadas formas humanas.  O indivíduo como que se funde com a massa para poder esquecer o fardo de sua singularidade.
                              
É a fusão e não a união que move os blocos carnavalescos ou outras emoções que exigem intensidade sem reflexão. É o desejo de sair do anonimato e assumir no próprio rosto a imagem de outros rostos.
                              
A nossa cultura tolera e estimula estas buscas e estes protestos diversificados, já que enorme soma de recursos financeiros é mobilizada para alimentar os  cofres públicos. O vazio humano tem um preço muito elevado.................
                            
Um filósofo chamado LAURENCE DURRELL, escreveu que "buscamos preencher o vazio de nossa individualidade e por um breve momento desfrutamos da ilusão de estar completos. Porém, é só uma ilusão".    É uma ilusão tentar preencher o nosso vazio existencial com tudo aquilo que passa e deixa um  vazio maior.  
                              
Um dos idealizadores da moderna psicologia, a TRANSPESSOAL, o DR. ROBERTO ASSAGIOLI, concluiu que "o estado habitual da maioria das pessoas é o de identificação com aquilo  que, em dado momento, parece nos proporcionar o maior senso de estarmos vivos e que nos parece mais real ou mais intenso". 
                              
O problema não está, óbviamente, na sensação de alegria que a cultura carnavalesca introduziu em nosso sistema social, mas na forma como a "alegria" foi ampliada a ponto de proporcionar ao individuo o senso de se estar vivo, dando-lhe a impressão de que sómente isto é real e intenso ao passo que inúmeros outros valôres deixam de serem estimulados.
                             
É por  isso que a ilusão de se estar completo desaparece na "quarta-feira de cinzas", porque este tipo de "alegria" une e depois divide: a pessoa voltfa a experimentar a singularidade de ter de conviver com as pequenas e fugazes alegrias cotidianas.
                              
Se não fosse tão  necessário este desejo de identificação com este tipo de "alegria" que parece ser real e intensa, onde o bom senso é sobrepujado, não precisariamos ter de ouvir o lamento de muitos pais que choram sobre as cruzes frias que guardam os corpos de seus filhos, após o êxtase coletivo ter terminado em cinzas, numa quarta-feira.
                               
Uma civilização sadia é aquela que repensa inúmeras vezes, e discute abertamente, as consequências de tudo aquilo que ela considera fundamental para o bem-estar de seus membros, porque o prazer procurado com ânsia desmedidas transforma a liberdade em prisão, a alegria em tristeza e a vida em morte.
                               
Neste dia de "quarta cinzenta" bem que podiamos ouvir, sómente, o bater cadenciado de um surdo anunciando o final de um intenso prazer que mais uma vez mentiu dando a impressão que sua intensidade terminaria de vez com o vazio que as grandes massas humanas sentem.
                                                                        
TARCISIO ALCANTARA

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