Proveniente da física. Trata-se da capacidade que certos materiais apresentam de absorverem impactos e retornarem à sua forma original. Transposta para o comportamento humano, a resiliência representa não apenas a habilidade de lidar com as adversidades e de superá-las, mas também a capacidade de não permitir que essa experiência afete de modo negativo e permanente seu modo de ser e de ver o mundo.
É fácil perceber a importância que isso possui em nosso desenvolvimento pessoal e profissional. Imagine uma pessoa que perde o emprego ou que se vê forçada a desfazer uma sociedade por ter confiado nas pessoas erradas ou devido à ação de indivíduos mal-intencionados. Ela pode vir a encontrar outro emprego ou iniciar um novo negócio. Mas isso, por si só, não é sinal de resiliência. Se a pessoa em questão tiver pouca ou nenhuma resiliência, sua maneira de ser e de ver o mundo será negativamente afetada por essa experiência. Ela pode, por exemplo, passar a desconfiar de tudo e de todos, assumir o comportamento de vítima e enxergar apenas o que os outros têm de pior. Esse tipo de atitude, é claro, comprometerá seu bem-estar psíquico e emocional, bem como seus relacionamentos e sua ascensão profissional.
Já a atitude de uma pessoa resiliente é completamente diferente. Por mais que a experiência a tenha feito sofrer, ela é capaz de superá-la sem que a sua essência seja negativamente alterada. Em vez de desconfiar de todo mundo, ela simplesmente aprende a selecionar melhor seus amigos e sócios. Em vez de adotar uma postura de vítima, ela passa a acreditar ainda mais em sua capacidade de superação. E, por mais que a dificuldade experimentada a tenha abalado, ela não perde a fé, a convicção e o entusiasmo. Estudos indicam que pessoas resilientes mantêm sua integridade emocional inclusive quando se confrontam com situações devastadoras. Em meados de 2001, a psicóloga Barbara L. Fredrickson, da Universidade da Carolina do Norte, fez uma pesquisa para detectar a resiliência de um grupo de estudantes universitários. Pouco depois, os Estados Unidos – e o mundo – foram abalados pelos ataques terroristas ocorridos em setembro daquele ano, no qual milhares de pessoas perderam suas vidas. A doutora Fredrickson retomou suas pesquisas, dessa vez para detectar os efeitos da tragédia no grupo que ela estava estudando. Os resultados indicaram que os resilientes experimentaram as mesmas sensações de angústia e tristeza que os não-resilientes. A diferença é que eles demonstraram maior capacidade de recuperação e foram menos afetados por problemas como estresse pós-traumático, depressão e ansiedade. Por quê? De acordo com os estudos da doutora Fredrickson, o principal motivo é a atitude positiva que os resilientes demonstram perante a vida. Mesmo em face de uma situação extrema, eles conseguiram invocar emoções positivas – como a gratidão por estar vivo, a compaixão e o desejo de ajudar – e mantiveram o foco no altruísmo e na coragem dos que participaram das missões de resgate, em vez concentrarem-se apenas na perversidade dos perpetradores.
Pode-se dizer que é uma questão de foco, de perspectiva. No entanto, são as coisas nas quais você decide focar sua atenção que definem suas escolhas de vida.
Ricardo Bellino – Empresário e dealmaker, fundador da Gold & Bell, do Inemp, o Instituto do Empreendedor, e da Escola da Vida (www.escoladavida.com). Autor de diversos livros lançados em mais de dez países, é também colunista e palestrante. Fonte: Gazeta Mercantil/Caderno D