Sempre
digo que a atitude quente é muito mais importante do que o conhecimento frio.
Acumular conhecimento é nobre e necessário, mas sem atitude, sem personalidade,
você, no fundo, não será muito diferente daquele personagem de Charles Chaplin
apertando parafusos numa planta industrial do século passado.
É preciso,
antes de tudo, se envolver com o trabalho, amar o seu ofício com todo o
coração. Não paute sua vida nem sua carreira pelo dinheiro. Seja fascinado pelo
realizar, que o dinheiro virá como consequência.
Quem pensa
só em dinheiro não consegue sequer ser um grande bandido ou um grande canalha.
Napoleão não conquistou a Europa por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos
pintando a Capela Sistina por dinheiro.
E,
geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar.
Tudo o que fica pronto na vida foi antes construído na alma.
A
propósito, lembro-me de um diálogo extraordinário entre uma freira americana
cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a
tratar dos leprosos, diz: "Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum
no mundo".
E ela
responde: "Eu também não, meu filho". Não estou fazendo com isso
nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar e
realizar têm trazido mais fortuna do que pensar em fortuna.
Meu
segundo conselho: pense no seu país. Porque, principalmente hoje, pensar em
todos é a melhor maneira de pensar em si. Era muito difícil viver numa nação onde a
maioria morria de fome e a minoria morria de medo.
Hoje o país oferece
oportunidades a todos. A estabilidade econômica e a democracia mostraram o
óbvio: que ricos e pobres vão enriquecer juntos no Brasil. A inclusão é nosso
único caminho.
Meu
terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: seja quente ou seja frio, não seja
morno que eu vomito. É exatamente isso que está escrito na carta de Laodiceia.
É preferível o erro à omissão; o fracasso ao tédio; o escândalo ao vazio. Porque
já li vros e vi filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém
narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso (ou narra e fica muito
chato!).
Colabore
com seu biógrafo: faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora,
se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido. Tenho consciência
de que cada homem foi feito para fazer história.
Que todo homem é um milagre e
traz em si uma evolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro.
Você foi
criado para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos,
caminhando sempre com um saco de interrogações numa mão e uma caixa de
possibilidades na outra.
Não dê
férias para os seus pés. Não se sente e passe a ser analista da vida alheia,
espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a
dizer: "Eu não disse? Eu sabia!".
Toda
família tem um tio batalhador e bem de vida que, durante o almoço de domingo,
tem de aguentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo o
que faria, apenas se fizesse alguma coisa.
Chega dos
poetas não publicados, de empresários de mesa de bar, de pessoas que fazem
coisas fantásticas toda sexta à noite, todo sábado e todo domingo, mas que na
segunda-feira não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansiar, não
sabem perder a pose, não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar. Só o
trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão.
E isso se chama "sucesso". Seja sempre você mesmo, mas não seja
sempre o mesmo.
Tão importante
quanto inventar-se é reinventar-se. Eu era gordo, fiquei magro. Era criativo,
virei empreendedor. Era baiano, virei também carioca, paulista, nova-iorquino,
global. Mas o mundo só vai querer ouvir você se você falar alguma coisa para
ele. O que você tem a dizer para o mundo?
Nizan Guanaes, publicitário e presidente do Grupo ABC.
Fonte: Folha de São Paulo – 08/02/2011.