A controvérsia persiste quanto a datas especiais, Dia da Criança, do Índio, do Negro, da Mulher, da Avó, do Médico e daí por diante. Já que as datas existem, a gente pode tirar algum proveito disso: não se aborrecer, não criticar, não ficar chato, mas usar para alguma coisa positiva. Digamos, para abraçar o pai para quem não se olhava direito fazia algum tempo, telefonar para a avó, cuidar de seus preconceitos raciaias, arrumar o mal-estar com a sogra, sei lá. Mesmo o Natal é objeto de rabugice, comercializado demais. Ele não precisa ser um evento comercial, mas de reunião com pessoas queridas. Novo ano pode ser de culpa ou revisão amarguradas dos propósitos impossíveis. Pode ser só hora de pensar melhor no que se deseja, no que se gosta, no que se pode ou se poderia fazer de bom.
Enfim, cada um pode pintar e bordar em cima de datas estabelecidas, para que não se tornem o avesso do que se pretendia que fossem, mas que nos deem alegria. Pois de alegria andamos carentes, no meio de tanta agitação. Mas a data pela qual tanto telefonaram e mandaram e-mails desta vez era o Dia Internacional da Mulher. Ele ainda vale a pena, ainda tem significado? Queriam saber. Não sou eu quem vai determinar o que tem ou não importância para cada um. O feminismo do século passado teve muita importância. Parece que ela diminuiu na medida em que conseguimos trabalhar, ganhar dinheiro, pagar contas, sair de casamentos muito infelizes, namorar sem ter que casar, viver sem ter de estar pendurada numa figura masculina. Em nenhuma figura.
Lembro do horror com que, faz algum tempo, se encarava uma mulher separada, então "a desquitada". Que pena tínhamos de seus filhos. Lembro de cometários como "mulher minha não precisa trabalhar, ou "ela trabalha fora, coitada, o marido não consegue sustentar a casa sozinho".
Mas tudo isso ainda está incompleto e precisado de muita melhoria, o que vai acontecer ao natural daqui em diante, porque as mudanças sociais acontecem por si, não porque alguém determina. O uso promove transformações.
Com as mudanças na vida das mulhreres do mundo ocidental vieram também algumas difíceis, pesadas. A sociedade habitualmente não oferece por exemplo creches boas, baratas e próximas de casa ou no próprio trabalho. Por mais que o marido colabore - pois os homens descobriram que não são retardados nem incapazes, portanto, podem cozinhar, trocar fralda, lavar louça-, a comida não se prepara sozinha, o bebê não se limpa, não se banha, não come sem ajuda, as crianças têm de ser levadas à escola e apanhadas, há reuniões, pediatra, dentista, fora o resto, e há, não se pode esquecer, o parceiro, que precisa falar, escutar, abraçar, dar risada ou desabafar. Existe a família, incluindo as crianças, que esperam o tempo de um sorriso, um abraço, uma brincadeira. Ou aquele silêncio bom de quando pai, mãe e filhos se reúnem na sala, cada um entretido com alguma coisa, sem falar talvez, mas unidos nesse sentimento maravilhoso (sim. eu gosto dessa palavra) de que todos de alguma forma se pertencem.
Então, o Dia Internacional da Mulher ainda faz sentido? Fará, enquanto houver tantas coisas a resolver, com a mulher, o índio, o negro, a criança. E, quando tudo estiver resolvido no mundo da utopia, quem sabe vai persistir, como acontece com o Dia da Mãe e o Dia do Professor, para lembrar que um telefonema, um abraço, um almoço, um carinho extra são bem-vindos.
A gente está na luta. Mulheres e homens e crianças e jovens, porque um não muda sem mudar alguma coisa no outro, um não sofre nem se alegra sem que algo disso se reflita nos demais.
Então, quem sabe a gente não unifica tudo isso, e inventa um Dia da pessoa? Quando se lembraria que pai, mãe, amiga, avó, sogra, médico, professor e outros que convivem conosco não são entidades nem atributos naturais, nem instrumentos a usar, nem degrau a subir, mas gente: de coração, emoção, amores e dores, esperança, sonhos secretos, e toda uma vida às vezes difícil, esperando ser aqui e ali adivinhada, apreciada, respeitada, homenageada.
Fonte: (Revista Veja, página 26, edição 2208-ano 44- nº11-16 de março de 2011)
Um comentário:
Olá Odete, meu nome é Elisângela sou estudante de Serviço Social em São Paulo/SP. O meu TCC, abordará a importancia do profissional de assistencia social no escpaço escolar público a partir de uma analise de turmas de 1º e 2º ano do ensino médio em uma escola de um dos bairros mais vulneráveis da capital, vi o seu blog e fiquei feliz em saber que ja existe a atuação do profissional na área no Estado de Minas Gerais. Gostaria de saber se em Minas, há profissional também no ensino médio, ou é somente no fundamental? Parabéns pelo trabalho que vem desenvolvendo e gostaria de pedir a sua colaboração nesta minha pesquisa.
Meus e-mails:
elisangela_duartepj@yahoo.com.br
elisangeladuarte@comunidadecidada.org.br
Aguardo o seu retorno!
Um grande abraço!
Postar um comentário