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quinta-feira, 5 de maio de 2011

Um bairro redesenha o futuro - GILBERTO DIMENSTEIN

Criaram-se programas para cuidar de problemas de saúde dos estudantes: de cárie a doenças mentais


NA LISTA DAS cem pessoas mais influentes do mundo elaborada pela revista "Times", em que aparece a presidente Dilma Rousseff, há um personagem internacionalmente desconhecido. Chama-se Geoffrey Canada e é o criador de uma experiência num bairro de Nova York (Harlem) que está moldando o jeito de combater a pobreza e melhorar a educação nos Estados Unidos.

O jornal "The New York Times" considera o projeto um dos mais ousados experimentos sociais do nosso tempo. O caso é estudado nas melhores escolas de negócios americanas como um exemplo de gestão inovadora. Nas palestras sobre inovação educacional a que tenho comparecido, o nome de Canada quase sempre é lembrado.
Por ter encantado políticos e milionários que moram em Nova York -a começar do prefeito da cidade, o bilionário Michael Bloomberg-, ele tem recebido dinheiro para suas experimentações.

Intitulado Harlem Children"s Zone, o projeto ganhou notoriedade quando Barack Obama decidiu criar um fundo para replicá-lo em todo o país. Suas lições certamente são úteis para o Brasil.

Canada tem uma daquelas biografias notáveis. Negro, de família pobre, nasceu no South Bronx, bairro nova-iorquino que era considerado símbolo da degradação urbana. Decidiu estudar educação e conseguiu se formar nas melhores universidades americanas. Seu gosto pelas lutas marciais deu-lhe habilidade para intermediar conflitos nas comunidades dominadas por gangues. Virou professor de tae kwon do para ajudar os jovens a controlar seus impulsos violentos.

Quando iniciou o projeto, há 14 anos, o educador Canada estava interessado especialmente em melhorar o desempenho dos estudantes. "Percebi que não iria muito longe se quisesse melhorar apenas a escola", diz ele. Era necessário mudar muitos outros fatores que influenciam no aprendizado. Traçou como meta dar às crianças do bairro a mesma rede de proteção oferecida a um estudante de classe média. "Para mudar a escola, precisávamos mudar toda a comunidade, começando pelos pais."

Daí iniciou uma operação quadra por quadra para criar essa rede de proteção e justamente aí surgiu a solução inovadora.

Por uma dessas coincidências da vida, meus dois filhos estudavam numa escola experimental pública localizada nas proximidades do Harlem, onde havia efervescência de experimentações comunitárias, entre as quais a de Geoffrey Canada. Essa efervescência no fim da década de 1990 era chamada de "Harlem Renascença", numa referência ao tempo dos artistas que viviam no bairro. Foi ali que Martin Luther King articulou seu movimento por direitos civis.

Para Canada, tratava-se de educar não apenas os estudantes mas toda a comunidade a fim de criar redes de proteção.
Criaram-se programas para cuidar dos mais diversos tipos de problema de saúde dos estudantes: de cárie a doenças mentais, passando por asma e bronquite.

Lançaram projetos para lidar com álcool, drogas e violência doméstica. Futuros pais passaram a receber aulas sobre como cuidar de seus filhos.

Mutirões ajudaram a recuperar áreas degradadas. Montaram-se programas de orientação vocacional. Em suma, surgiu uma articulação de quase tudo o que é necessário para alguém prosperar.

Canada articulou uma rede educativa que abrangia da creche ao fim do ensino médio, com uma preparação para a faculdade.
Surgiram escolas públicas independentes para que a comunidade pudesse escolher (e demitir) seus diretores e professores, além de estabelecer o próprio currículo.

O tempo de aula foi ampliado e foram criadas atividades extracurriculares para descobrir habilidades de crianças e adolescentes.

Não é um projeto que possa ser aplicado facilmente no Brasil. Canada tem uma fila de doadores e gasta, por ano, quase R$ 100 milhões. Mas o poder público, em qualquer lugar, tem a capacidade de induzir a organização e a articulação de diversos serviços da comunidade.

Como estamos discutindo no Brasil as portas de saída para nossos programas de distribuição de renda, vemos como a melhor solução começa numa ofensiva "hiperlocal", integrando todos os recursos.

Há nessa experiência uma mensagem transgressora: a de que é muito pouco tentar melhorar apenas a escola, esquecendo o cuidado com toda a comunidade.

Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO - 01/05/11

quarta-feira, 4 de maio de 2011

O governo Dilma já está mostrando a que veio: precarizar as instituições de ensino e do trabalho docente das Universidades Federais.

É lamentável ver que, ao invés de nivelar a educação pública no Brasil por cima, tendo em comparação as boas escolas e universidades públicas deste país, que alcançam índices significativos quando avaliados, como é o caso dos Colégios de Aplicação, o MEC quer agora nivelar esses colégios e as Universidades Federais por baixo, igualando as péssimas condições que se encontram as demais escolas públicas do país, tanto municipais como estaduais.

Transcrevo aqui, parte de uma reportagem publicada no Blog da Associação dos Docentes Federais do Amazonas, dizendo que há um descontentamento com a publicação das Medidas Provisórias (MPs) 520, que criou a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), e 525, que altera a Lei nº 8745 e versa sobre a contratação de professores temporários, estabelecendo vagas de profissionais de ensino em novas instituições, sem a obrigatoriedade da promoção de concursos; além do Projeto de Lei Complementar (PLP) 549, que congela o salário dos servidores federais por dez anos, e da Minuta de Portaria do Ministério da Educação (MEC) que ameaça municipalizar ou estadualizar as Escolas de Aplicação – hoje ligadas às universidades federais –, aumentando em 2012 a relação professor/aluno para 1/20, sem a necessária realização de concurso para o quadro efetivo.

Para os professores essas medidas atentam contra o caráter público e gratuito da instituição de ensino superior e de outros serviços, pois implicam em precarização do trabalho docente nas universidades públicas e se constituem como ataque à qualidade da educação, por parte do governo, com salários menores e veto ao acesso ao plano de carreira a estes trabalhadores. “Não podemos permitir a privatização dos hospitais universitários, a contratação de professores temporários sem concurso para a expansão das universidades, bem como de docentes substitutos”, completou Oliveira.

Alerta

Os docentes também chamaram atenção para o fato de o Governo Federal ter concordado com o aumento de 61,83% nos salários dos senadores e deputados federais e se auto-concedido um reajuste salarial de 133, 96%. Além disso, recordam do impasse em que se constituiu o aumento pífio do salário mínimo, bem como do corte de cerca de 50 bilhões de reais no Orçamento, dos quais R$ 1 bilhão atingindo diretamente a área educacional, sem contar a suspensão de benefícios concretos e constitucionais da ação do Estado na saúde, alimentação e habitação.

O alerta dos docentes contra o “pacote de medidas” do Governo também inclui os PLPs 248/98, que regulamenta a demissão do servidor público estável a partir de duas avaliações negativas seguidas num período de dois anos; o 92/07, que institui as fundações estatais de direito privado, transferindo boa parte da administração dos serviços públicos essenciais, como saúde e educação, para a iniciativa privada; e o 549/09, já aprovado no Senado, após apresentação coordenada pelo líder do governo Romero Jucá, e em tramitação na Câmara Federal, que visa limitar os gastos com a folha de pagamento dos servidores públicos em dez anos.



domingo, 1 de maio de 2011

MEC aprova livro didático, para escolas públicas, que critica FHC e elogia LULA


Livros didáticos aprovados pelo MEC (Ministério da Educação) para alunos do ensino fundamental trazem críticas ao governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e elogios à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Uma das exigências do MEC para aprovar os livros é que não haja doutrinação política nas obras utilizadas.
 
O livro "História e Vida Integrada", por exemplo, enumera problemas do governo FHC (1995-2002), como crise cambial e apagão, e traz críticas às privatizações.

Já o item "Tudo pela reeleição" cita denúncias de compra de votos no Congresso para a aprovação da emenda que permitiu a recondução do tucano à Presidência.
 
O fim da gestão FHC aparece no tópico "Um projeto não concluído", que lista dados negativos do governo tucano. Por fim, diz que "um aspecto pode ser levantado como positivo", citando melhorias na educação e a Lei de Responsabilidade Fiscal.
 
Já em relação ao governo Lula (2003-2010), o livro cita a "festa popular" da posse e diz que o petista "inovou no estilo de governar" ao criar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

 
O escândalo do mensalão é citado ao lado de uma série de dados positivos.

Ao explicar a eleição de FHC, o livro "História em Documentos" afirma que foi resultado do sucesso do Plano Real e acrescenta: "Mas decorreu também da aliança do presidente com políticos conservadores das elites". Um quadro explica o papel dos aliados do tucano na sustentação da ditadura militar.
 
Quando o assunto é o governo Lula, a autora -que à Folha disse ter sido imparcial- inicia com a luta do PT contra a ditadura e apenas cita que o partido fez "concessões" ao fazer "alianças com partidos adversários".

 
Em dois livros aprovados pelo MEC, só há espaço para as críticas à política de privatizações promovida por FHC, sem contrabalançar com os argumentos do governo.

MENSALÃO
 

Já na apresentação da gestão Lula, há dois livros que não citam o mensalão.
 

Em "História", uma frase resume o caso, sem nomeá-lo: "Em 2005, há que se destacar, por outro lado, a onda de denúncias de corrupção que atingiu altos dirigentes do PT, inúmeros parlamentares da base do governo no Congresso e alguns ministros do governo federal".
 
A Folha não conseguiu falar com os autores da obra.
 
Uma das críticas feitas a Lula é o fato de ter continuado a política econômica do antecessor.
 
Os livros aprovados pelo MEC no Programa Nacional do Livro Didático são inscritos pelas editoras e avaliados por uma comissão de professores. Hoje, 97% da rede pública usa livros do programa.

 
São analisados critérios como correção das informações e qualidade pedagógica. As obras aprovadas são resenhadas e reunidas em um guia, que é enviado às escolas públicas para escolha dos professores. 

Fonte: Folha de São Paulo deste domingo
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