CFM apresenta diretrizes para tratamento de usuários da droga
Preocupado com o crescente número de dependentes, Conselho Federal de Medicina quer disseminar entre médicos informações úteis para tratamento
O Conselho Federal de Medicina (CFM) lançou nesta
quarta-feira (10) protocolo de assistência a usuários e dependentes de crack. O
documento, intitulado Diretrizes Gerais Médicas para Assistência Integral ao
Usuário do Crack, foi formulado pela Comissão de Assuntos Sociais da entidade a
partir de uma pauta de discussões realizadas em 2010 e 2011 em um fórum, um
seminário e uma oficina – encontros dos quais participaram especialistas,
pesquisadores e representantes de instituições interessadas no tema. (Acesse o documento)
As Diretrizes definem conceitos relacionados à
droga e a seu uso, assim como aspectos gerais e específicos do tratamento. A
cerimônia de lançamento da publicação foi realizada na sede do CFM, em
Brasília, e teve a presença de autoridades do governo, parlamentares,
representantes de entidades médicas e de instituições de saúde.
O presidente do Conselho, Roberto d’Avila,
destacou que, quando se trata do crack, 1/3 dos usuários morrem (85% deste por
causas violentas), outros 1/3 permanecem com deficiências crônicas e perdas
cognitivas, e somente 1/3 dos usuários se curam. “Penso que não há ninguém que
não fique impressionado com a epidemia que se instalou no país. Todos precisam
estar envolvidos nesta luta, e o CFM fará sua parte com projetos continuados e
capacitação dos médicos”.
O 2º vice-presidente
da Câmara dos Deputados, Eduardo da Fonte (PP-PE), apontou que a ação do CFM é
importante no momento em que o uso da droga de tornou uma tragédia. “Se não nos
unirmos e tomarmos um providência teremos um amanhã cada vez mais difícil”.
Divulgação - “Em síntese, as Diretrizes servem de guia para
capacitar médicos, especialmente do Sistema Único de Saúde, para o atendimento
de usuários de crack. O lançamento da publicação marca o início de seu envio
para instituições a que estão vinculados profissionais que planejam e executam
ações em saúde, como o Ministério e as secretarias estaduais e municipais de
saúde e os sindicatos e conselhos de médicos”, afirmou Ricardo Paiva, membro da
Comissão de Assuntos Sociais do Conselho.
De acordo com o 1º vice-presidente do CFM, Carlos
Vital, o Conselho também incentivará a divulgação das Diretrizes em âmbito
nacional e regional. “Apoiaremos a organização de fóruns e seminários sobre o
tema pelos conselhos regionais de medicina”, disse. O documento também poderá
ser encontrado na internet. (Clique aqui).
Tratamento – As Diretrizes indicam, por exemplo, o
encaminhamento que deve ser dado aos usuários de crack no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS), com referência, entre outros recursos, à estrutura de
urgências e emergências, de consultórios de rua e de albergues terapêuticos.
Com o auxílio das diretrizes, os médicos poderão
avaliar e manejar casos de urgência que envolvam intoxicação, abstinência aguda
ou overdose. Os profissionais também passam a dispor de orientações sobre as
etapas dos processos de atendimento e as abordagens mais indicadas aos
usuários.
Além das diretrizes médicas, o Conselho também
apresentou diretrizes para a assistência ao usuário do crack voltadas para a
sociedade. Estruturadas sobre três eixos (policial, saúde e social), as
recomendações indicam ações que podem auxiliar na redução do consumo dessa
droga. “O enfrentamento da droga só será possível se houver uma ação conjunta
de vários órgãos do governo e a sociedade”, apontou o presidente do CFM,
Roberto d’Avila.
A entidade também mantém o hotsite www.enfrenteocrack.org.b com
informações de locais para internações, legislação e campanhas.
Números – Pesquisa do Centro Brasileiro de Informações
sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), realizada em 2005, indica que 0,7% da
população brasileira de 12 a
65 anos havia usado crack pelo menos uma vez na vida.
Entre os entrevistados na pesquisa, 0,1% disse
ter usado crack no período de um ano anterior à entrevista e 0,1% afirmou ter
consumido a droga no período de 30 dias anterior à entrevista. O maior
percentual de pessoas que haviam consumido a droga pelo menos uma vez na vida
encontrava-se no grupo de sexo masculino com idade entre 25 e 34 anos: 3,2%, o
que à época correspondia a 193 mil pessoas.
A pesquisa revelou ainda que 44,9% da população
consideravam “muito fácil” obter crack caso desejasse, o que equivalia a
22.305.000 pessoas. O Ministério da Saúde estima que atualmente existam 600 mil
usuários de crack no país. No entanto, há divergências sobre este número.
Alguns pesquisadores estimam essa população em torno de um milhão de pessoas.
Outra pesquisa do Cebrid, realizada em 2010 entre
estudantes de escolas públicas e particulares das 26 capitais brasileiras e do
Distrito Federal, indica que 0,4% dos estudantes haviam usado crack no período
de um ano anterior às entrevistas.
Setor de Imprensa do Conselho Federal de Medicina
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ALGUNS DESTAQUES DAS
DIRETRIZES PARA ASSISTÊNCIA AO USUÁRIO
· A fumaça tóxica do Crack atinge o pulmão, vai à corrente
sanguínea e chega ao cérebro. É distribuído pelo organismo por meio da
circulação sanguínea e, por fim, a droga é eliminada pela urina. Sua ação no
cérebro é responsável pela dependência.
· Algumas das
principais conseqüências do uso da droga são: doenças pulmonares, alguns
doenças psiquiátricas, como psicose, paranóia, alucinações e doenças cardíacas.
A mais notória é a agressão ao sistema neurológico, provocando oscilação de
humor e problemas cognitivos, ou seja, na maneira como o cérebro percebe,
aprende, pensa e recorda as informações. Isso leva o usuário a apresentar
dificuldade de raciocínio, memorização e concentração.
· Os psiquiatras
preconizam internação para desintoxicação de cerca de 7 a 14 dias, drogas usadas
comumente como opióides e tratamento das comorbidades constituem-se em medidas
iniciais, devendo o paciente ter acesso à rede de tratamento ambulatorial bem
como aos processos integrados.
ASPECTOS GERAIS NO
TRATAMENTO DO USUÁRIO DE CRACK
A- MULTIFATORIEDADE do Dependente Químico (DQ) - O
tratamento deve ser interdisciplinar, dirigido às diversas áreas afetadas
: física, psicológica, social, questões legais e qualidade de vida. Objetivo:
iniciar a abstinência e prevenir as recaídas.
B- DESAFIO – Não há uma droga
específica apesar de pesquisas empreendidas. É preciso identificar
precocemente, avaliar padrão de consumo, grau de dependência,
comorbidades e fatores de risco. Garantir disponibilidade para o
tratamento e facilitar acesso aos serviços de atendimento, além de, buscar
adesão ao tratamento com intervenções familiares.
C- TRATAMENTO – Intervenções
medicamentosas de suporte: sintomáticas
e tratamento das
comorbidades psiquiátricas e complicações clínicas. A cocaína aumenta a
neurotransmissão da dopamina e serotonina relacionadas aos efeitos prazerosos e
reforçadores da droga e desregulação do sistema, com papel importante na
Síndrome de Abstinência, levando a inúmeros ensaios clínicos com intervenções
farmacológicas sem resultados satisfatórios. As drogas utilizadas ainda estão
sem evidência científica comprovada ou experiência clínica consistente.
Anticonvulsivantes, agentes aversivos, antidepressivos tricíclicos,
estabilizadores de humor e antipsicóticos são utilizados e serão comentados ao
final.
D- ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR E REDE INTEGRADA DE ATENÇAO
PSICOSSOCIAL
· Ações preventivas:sensibilização e capacitação dos
profissionais de saúde e educação
· Identificação precoce e encaminhamento adequado
· Desintoxicação: tratamento e suporte sintomático
· Tratamento das comorbidades: clínicas e psiquiátricas.
· Estratégias de psicoeducação: trabalhar fatores de risco
- Grupos de auto-ajuda
- Acompanhamento ao
longo do tempo na Estratégia Saúde da Família
- Abordagens
psicoterápicas por profissionais habilitados, terapias individuais, grupais
- Terapia
cognitiva comportamental.
- Treino de
habilidades sociais e prevenção de recaídas
- Reabilitação
neuropsicológica e psicossocial
- Redução de
danos com base em evidências médicas e legais
- Rede de atenção:
leitos em hospitais gerais para desintoxicação, ambulatórios , CAPS AD,
albergamento sócio-terapeutico e moradias assistidas
DIMENSÃO DO PROBLEMA
· A rede integrada de saúde mental necessita ser dimensionada
quanto as necessidades.
· Os serviços comunitários, geralmente religiosos, são muitos,
são precários, carecem de base científica e beneficiam pouco o Dependente
Químico.
· As ações na área de saúde nas três esferas de governo e entre
os diversos órgãos em uma mesma esfera não são integradas e não são harmônicas.
· Os serviços de assistência ao Dependente Químico de Crack
(DQC) com qualidade são poucos e geralmente privados e universitários.
· O uso de substâncias psicoativas (SPA) lícitas prediz o uso
de SPA ilícitas e no Brasil não temos nenhum controle sobre publicidade, preço
e disponibilidade das SPA lícitas.
· Os usuários recreativos, que sustentam o tráfico, são vistos pela
lei 11.343/2006 como dependentes.
· A repressão ao tráfico é insuficiente.
· Não existe tratamento único e ideal para a DQC. O melhor
seria organização de um sistema de serviços que levasse em conta a diversidade
de problemas (saúde mental e física, social, familiar, profissional, conjugal,
criminal, etc), buscando a proporcional diversidade de soluções.
· Devido a natureza da DQC alguns pacientes podem beneficiar-se
de intervenções breves e outra parte, necessitar de tratamentos mais
sistematizados e com diferentes níveis de complexidade e variedade de recursos.
ONDE
PROCURAR AJUDA
· Procure a secretaria
municipal de saúde ou o conselho municipal de saúde ou ainda o ministério
público, sempre que tiver dificuldades em obter o tratamento desejado.
· Utilize o 08005100015 para acessar a central de atendimento
gratuito para informações (projeto viva voz da SENAD)
PARA ACESSAR A ÍNTEGRA DO DOCUMENTO, ACESSE O SITE DO CFM (www.portalmedico.org.br).
ALGUNS DESTAQUES DAS DIRETRIZES PARA A SOCIEDADE
· É preciso mobilizar
toda a sociedade (sindicatos, conselhos, movimentos sociais, religioso,
estudantil) e meio empresarial para criar uma consciência de responsabilidade
compartilhada para o sucesso dessa grande ação de cidadania.
· As entidades médicas
(Conselho Federal de Medicina, Federação Nacional dos Médicos e Associação
Médica Brasileira) se disponibilizam para fazer parte dessa grande causa.
· A Comissão de Assuntos
Sociais criada pelo CFM, além da realização de três seminários, estudou o tema,
tendo por base:
a) apresentação pela
SENAD do Plano de Enfrentamento ao Crack do Governo Federal;
b) orçamento previsto
e executado em 2010 para essas ações;
c) relatório da ONU
sobre drogas em 2010;
d) proposta da OMS de
fluxograma para atendimento aos usuários;
e) experiências,
europeia e americana, nos últimos 10 anos, disponibilizadas na web;
F) diretrizes da
Associação Brasileira de Psiquiatria/AMB e Câmara Técnica do CFM
De
forma objetiva e legitimada pela Comissão ficou estabelecido que:
1 - O plano de
enfrentamento proposto pela SENAD contempla as ações necessárias se
implementadas com recursos em quantidade suficiente e adequadamente aplicados.
2 - Há um consenso
para que haja eficácia no enfrentamento ao crack, que o Governo Federal nomeie
um coordenador geral, com o objetivo de articular as ações com todos os
ministérios e venham a agir de forma integrada e que os recursos não
privilegiem ações policiais ou de saúde em detrimento de ações sociais.
3- Ferramentas
isoladas como comunidades terapêuticas ou consultórios volantes não resolvem a
assistência à saúde que necessitam de uma rede hierarquizada e integrada.
Sugestão
da Comissão de Assuntos Sociais do CFM, apresentando prioridades para os três
eixos:
Eixo
Policial
a) Ações de
inteligência para reprimir a entrada da droga e mapear os pontos principais de
venda;
b) Ação de
inteligência para extirpar dos quadros policiais profissionais envolvidos com o
tráfico;
c) Ação de capacitação
e qualificação das forças policiais nas relações humanas e interpessoais;
d) Inteligência fiscal
para controle de movimentação financeira do tráfico;
e) Controle fiscal
sobre insumos próprios ao fabrico do crack.
Eixo
Saúde
a) Estruturar e
capacitar as portas de entrada para o usuário (Estratégia Saúde da Família,
urgências), bem como implementar a rede de sustentação (Centros de Apoios
Psicossociais, CAPS AD (Álcool e droga), hospitais de apoio, grupos de
autoajuda e albergamento terapêutico , consultórios de rua);
b) Dimensionar o
necessário número de profissionais médicos, demais profissionais de saúde e
assistentes sociais para trabalharem em rede e de forma integrada;
c) Criar o agente
comunitário social e alocá-lo nos ESF até que a estrutura do Consuas esteja plenamente
instalada.
Eixo
Social
a) Criar centro de
convivência em cada comunidade de periferia com biblioteca, espaço de arte,
lazer e cultura e inclusão digital;
b) Melhorar a
qualidade das escolas para aprendizado em tempo integral e com formação
profissionalizante;
c) Reivindicar ao
Governo Federal que organize processo de economia solidária (banco popular com
acesso a microcréditos) e cooperativas de trabalho, conforme vocação econômica
das comunidades.
ONDE
PROCURAR AJUDA
· Procure a secretaria
municipal de saúde ou o conselho municipal de saúde ou ainda o ministério
público, sempre que tiver dificuldades em obter o tratamento desejado.
· Utilize o 08005100015 para acessar a central de atendimento gratuito
para informações (projeto viva voz da SENAD – Secretaria Nacional Anti Drogas).
PARA
ACESSAR A ÍNTEGRA DO DOCUMENTO, ACESSE O SITE DO CFM (www.portalmedico.org.br).
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Mais informações:
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OBS: Artigo recebido através de e-mail, enviado pela aluna Jaqueline Paiva