Atendendo a pedidos aqui vai artigo
sobre a “Maldição de Mary Richmond, que é muito comentada no Serviço Social.
Brincadeiras à parte, é bom saber a
origem das crendices que rondam nossa profissão.
Desejo um bom final de domingo e uma
ótima semana à todos/as, agora bem melhor sem o horário de verão né?
Não é de se estranhar que o curso de Serviço Social seja hegemonicamente
feminino. No entanto tal fato não é natural,
não é por acaso, a relação entre o Serviço Social e o gênero é cultural. Um
breve olhar sobre o processo histórico do qual o Serviço Social passou de
trabalho assistencialista à profissão reconhecida, nos permite observar que
este esteve durante muito tempo ligado à igreja, e as damas de caridade, seu viés
era o de cuidar dos mais necessitados. Ainda hoje a função do cuidar do Serviço
Social povoa simbolicamente a imaginação das pessoas.
Quanto a nós mulheres, historicamente o lugar que nos foi dado na sociedade foi o âmbito privado, o ambiente doméstico. Dessa forma nosso papel na família patriarcal é o de dona de casa, cuidadora dos filhos e dos afazeres domésticos, enquanto que o homem é o provedor. Nesta ótica nossa condição é de tutelada, propriedade daquele que nos sustenta. Esse papel atribuído à mulher lhe cobra “virtudes” de obediência, resignação, delicadeza, e por ai vai. Nos ensinam a ser mulher, como afirma Simone de Beauvoir, na sua célebre obra, O Segundo Sexo, “não nascemos mulheres, nos tornamos mulheres”.
Durante séculos nós mulheres, estivemos a margem da produção científica, da vida política, das instâncias decisórias da sociedade. Inicialmente por muita pressão de mulheres pioneiras, e apoio de homens progressistas as portas começaram a ser abertas, e mais tarde através da organização dos movimentos feministas e de mulheres, o relativo avanço que vivenciamos hoje foi se desenhando. Nos deixavam estudar, mas desde que mantivéssemos viva nossa “mística feminina”, resguardando nossas virtudes, aos poucos éramos professoras, enfermeiras, aquelas que educavam, que cuidavam.
Podíamos estudar, desde que após concluir os estudos casássemos. Uma boa ilustração é o filme O sorriso de Monalisa, entre as várias disciplinas que as moças de um colégio feminino aprendiam, se incluíam boas maneiras, disciplinando-as para cuidar de um lar e como se comportar diante do seu marido, para sempre agradá-lo. Os arquétipos de mulheres na metade do século XX eram: dona de casa, freira e prostituta.
Por isso não é de se estranhar também, a postura de Mary Richmond, nome de grande expressão do Serviço Social americano, em decidir não se casar, porém sua postura em nada significa uma atitude de emancipação feminina, ela propunha que toda assistente social não deveria casar, deveria sim dedicar sua vida ao social, uma espécie de pacto, muito similar à postura das freiras. Porém, pior do que a proposta de Mary Richmond é uma suposta lenda que paira o curso de Serviço Social, uma brincadeira com forte teor machista: A MALDIÇÃO DE MARY RICHMOND. Que diz: aquela que não casar até a formatura, não casará mais.
Respeito às putas, que fazem do seu corpo a matéria de seu sustento. Respeito às freiras que escolheram casar com a igreja. Respeito àquelas mulheres que casam, criam seus filhos, e admiro entre elas, as que tentam dar uma educação transformadora a seus filhos. Às que nem por estarem casadas deixam de trabalhar para compor o sustento da casa, e ainda mais àquelas que sozinhas assumem o papel de chefe do lar contrariando postulados científicos e religiosos que nos taxaram de incapazes. Respeito às mulheres que optaram por viver sem marido, ou por não ter filhos. E àquelas que optaram por viver com outras mulheres. Hoje podemos minimamente escolher, isso é um fato, é uma conquista dos movimentos feministas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário