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sexta-feira, 25 de junho de 2010

O desenvolvimento da resiliência pelas adversidades da escola.


Vou postar um texto de CLÁUDIO PELLINI VARGAS que é Pós-Graduado em Psicologia do Desenvolvimento Humano (UFJF/MG) e Mestrando em Educação (UCP/RJ).
Tema interessante para ser discutido no contexto escolar. Como o texto é um pouco extenso, vou postar o restante amanhã. Boa leitura.

É fácil notar, nos dias contemporâneos, que a adolescência é um período de constante mudança, muita transição e instabilidade. Nessa fase da vida interagem, com forte intensidade, no indivíduo, aspectos físicos, cognitivos, sexuais, sociais, emocionais etc. Este momento é marcado por uma reorganização emocional com volubilidade, que pode promover no indivíduo a aquisição de valores, habilidades e competências, bem como fixar alguns já desenvolvidos na infância.


Essa concepção da adolescência como um período de muita tensão persiste na sociedade atual, principalmente entre os próprios jovens. Mudanças morfológicas, novos ambientes sociais, relacionamentos, pressões das instituições etc, são estímulos inevitáveis, mas que, mal absorvidos, podem comprometer o desenvolvimento integral e salutar juvenil. Contudo, a concepção estressante dessa fase parece mitigar, na medida em que reconhecemos que esse momento da vida é rico em experiências variadas, alegrias e satisfações.

Neste contexto, a escola surge como um local determinante, promovedor de emoções positivas e negativas aos jovens. Assim, para melhor entendermos a adolescência e suas vicissitudes escolares, parece ser oportuna a compreensão da resiliência.

Segundo Yunes (2006, p. 49) “o estudo do fenômeno da resiliência é relativamente recente. Vem sendo pesquisado há cerca de trinta anos, mas apenas nos últimos cinco anos os encontros internacionais têm trazido este constructo para discussão”. A expansão de seu conceito ainda mostrase reduzida ao contexto acadêmico e científico, sendo que, neste cenário, seu estudo também não se apresenta consolidado. Continua a autora (idem, p.47), afirmando que seu uso no Brasil ainda se restringe a um grupo bastante limitado de pesquisadores de alguns círculos acadêmicos. Muitos profissionais da área da psicologia, da sociologia ou da educação nunca tiveram contato com a palavra e desconhecem seu uso formal ou informal, bem como sua aplicação em quaisquer das áreas da ciência.

Etimologicamente, a palavra origina-se do latim resiliens, que significa voltar, recuar, romper, encolher-se, entre outros. Não obstante, o termo toma outro sentido na abordagem inglesa e assume dois significados. Um deles relaciona-se com a física e significa a habilidade de uma substância retornar à sua forma original quando a pressão é removida; o outro diz respeito ao indivíduo que possui a habilidade de voltar rapidamente para o seu usual estado de saúde ou de espírito depois de passar por doenças (YUNES, citada por POLETTO; KOLLER, 2006).

Aplicado às Ciências Humanas, mais especificamente às áreas da Psicologia e/ou Educação, o conceito evoluiu e adquiriu características que parecem permitir avaliar indivíduos de acordo com suas possibilidades de enfrentamento de adversidades. Existem duas gerações de pesquisadores sobre o tema. A primeira teve interesse em descobrir os fatores protetores que estão na base da adaptação positiva em crianças que vivem em condições de adversidade. A segunda expandiu o tema em dois aspectos: a noção de processo, que implica a dinâmica de fatores de risco e de resiliência, permitindo ao indivíduo superar a adversidade, bem como buscar modelos para promover a resiliência de forma efetiva. Existe ainda uma geração mais recente que se apóia no modelo ecológico-transacional de resiliência, com base no modelo ecológico de Bronfenbrenner (INFANTE, 2005). A autora traz uma definição de resiliência como adaptação positiva e distingue três componentes: (a) a noção de adversidade, que pode designar uma constelação de muitos fatores de risco ou situações de vida específicas; (b) a adaptação positiva ou superação da adversidade, que identifica se houve um processo de resiliência quando o indivíduo alcança expectativas sociais associadas a uma etapa de desenvolvimento ou quando não houve sinais de desajuste; e (c) a noção de processo, que permite entender a adaptação resiliente em função da interação dinâmica entre múltiplos fatores de risco e de resiliência.

Destacamos ainda, um conceito fundamental para se abordar o assunto no contexto escolar. Grotberg (2005, p.15), pioneira na noção dinâmica de resiliência, define-a como “a capacidade humana para enfrentar, vencer e ser fortalecido ou transformado por experiências de adversidade”.

Percebemos que o significado de resiliência e sua definição têm sido objetos de debates durante anos. Todavia, parece haver consenso sobre a possibilidade de adaptação positiva em meios adversos e com riscos significativos. Tais significados representam uma nova forma de lidar com as dificuldades dos indivíduos, causando-nos uma sensação de que o conceito de resiliência desafia paradigmas quanto à forma de enfocar os problemas enfrentados. A proposta da resiliência parece enfatizar como as pessoas podem seguir em frente, sem muita valorização da própria adversidade. É um convite a se considerar o indivíduo como alguém realmente único. Assim, a resiliência delineia a combinação de fatores que permitem a um ser humano superar os problemas da vida e construir sobre eles.

Refletindo à luz de autores como Melillo, Ojeda, Grotberg, entre outros especialistas em resiliência no Brasil e no mundo, pretendemos, com este artigo, reiterar a importância do conceito na educação. Apresentaremos o ambiente escolar como promotor de tal habilidade psicológica, com o apoio da noção de desenvolvimento humano de Papalia, Olds e Feldman.

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