Caros (as) leitores (as)!
É chegado mais um
dia 20 de novembro. Data nacional dedicada à consciência negra. Mas, além de
refletirmos simplesmente sobre a consciência negra, talvez se faça urgente
refletirmos sobre nossa própria consciência. É bom, vez em quando, fazermos,
pelo menos uma breve visita à nossa própria consciência! É bom, vez em quando,
procurarmos dialogar com nós mesmos, com nosso próprio pensamento! Existe uma
grande distância entre o que se diz e o que, de fato, se faz. Como diria o
saudoso professor Paulo Freire “É fundamental diminuir a distância entre o
que se diz e o que se faz, de tal maneira que num dado momento a tua fala seja
a tua prática”. É sob esta orientação do nosso grande educador que, ora,
construo esta singela homenagem, não somente à consciência negra, mas também ao
conjunto de todas as consciências do mundo.
Alguma vez na vida
você parou para consultar, para visitar sua consciência? Você realmente sabe
quem mora, quem habita dentro de sua consciência? É deveras fácil dizer-se
contra o preconceito, contra a discriminação, contra a tirania. Até os piores
ditadores, vez em quando, consultam sua vil consciência. Mas, isto não é
suficiente. É deveras fácil dizer-se contra a opressão e em favor dos
oprimidos. Mas, repetindo a indagação: você sabe quem mora em sua consciência?
Será o oprimido ou será o opressor? Muitas vezes criticamos atitudes alheias em
nome da luta contra a tirania e a opressão, mas, de fato, nossa prática não
passa da encarnação da própria tirania, da própria opressão. Por isso, meus (minhas)
caros (as) leitores (as) muitas vezes precisamos revisitar nossa consciência
branca, machista, preconceituosa e hipócrita para tentarmos compreender, pelo
menos, o significado de ter uma consciência. Alias, para que serve uma
consciência, afinal? Será que serve para comentarmos o mundo, as atitudes
alheias, as práticas alheias? Ou será que possuímos uma consciência apenas para
ser apaziguada nas datas de natal, de ano novo, nos dias de velório? Não! Meus
caros, minhas caras! Essa tal de consciência tem que servir para alguma coisa,
tem que servir para intervirmos concretamente neste mundo desigual, no sentido
de modificá-lo de transformá-lo.
A história da
cultura africana no Brasil foi contada, até bem pouco tempo, pelas elites
intelectualizadas que tinham o papel [delegado por eles próprios] de contar a
história do Brasil, da ocupação e delimitação das fronteiras de seu território,
isto é, a história oficial do país era reinventada pelas elites intelectuais
representantes das ideias de civilização da sociedade ocidental. Mesmo após a
dita “abolição” da escravatura, a história continuou a ser inventada pela elite
política e econômica do país. Aos setores populares do país era negado o
direito de opinar sobre sua própria história e sua própria cultura. Neste
sentido, é preciso voltar os olhos para nossa própria consciência e indagarmos:
de onde vieram as origens de nosso povo? Elas brotaram do mesmo solo
avermelhado, regado com o mesmo sangue dos antepassados africanos que
edificaram esta nação e consolidaram sua riqueza.
Vamos transformar
o dia “20 de novembro” em data realmente histórica, de nossa libertação diante
do mundo e das coisas do mundo. Assim, neste dia da consciência negra [e do
conjunto de todas as consciências do mundo] vamos abrir nossas algemas e soltar
as amarras e os grilhões que nos fazem prisioneiros de nós mesmos. Que nos
mantém aprisionados ao preconceito, à discriminação, à tirania. Vamos tomar
posse, de uma vez por todas, de nossas próprias consciências, libertando os
milhares de Zumbis (e Dandaras!), para que eles ganhem o mundo e nele edifiquem
quantidades incontáveis, intermináveis e eternas de Palmares.
Prof. Ms. Valter Machado da Fonseca
Doutorando em Educação - PPGED/FACED/UFU
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