Carta escrita por uma mãe de aluno da Eseba, indignada com o descaso dos nossos governantes pela Educação!
No
início desse ano de 2011, minha família viveu a emoção de ver nosso filho ser
sorteado para uma vaga no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de
Uberlândia - ESEBA/UFU.
Em
uma sala grande da Universidade, lotada, pais, mães, tios e avós, torciam. O
silêncio da oração era quebrado apenas pelo cantar das centenas, dezenas e unidades,
das bolas que saiam de três globos que, a cada giro, fazia o coração parar. A
cada sorteio, alguém podia guardar os amuletos e dar vazão à alegria em um
sorriso discreto, quase culpado pela sorte, enquanto os outros tantos, muitos,
apertavam seus terços, dedos em figa, pés-de-coelho, trevos e se apegavam a
orações como única esperança.
Eu
quis gritar e não tive coragem quando meu menino foi sorteado. Não sabemos
nunca o que serão nossos filhos, mas ali havia a chance de um futuro promissor,
com boa educação na certeza de entregá-lo nas mãos de bons profissionais.
E
assim, por enquanto, tem sido a sua sorte. Ele tem apenas quatro anos, mas está
feliz com a escola e cada dia mais “sabido”.
Sou
educadora e sai daquele sorteio com um misto de
alegria e tristeza. Porque uma vaga em uma boa escola pública tem que
ser uma loteria? E, depois de trinta anos dedicados à educação, depois de
tantas greves, doloridas, espero minha aposentadoria, com um sentimento de
impotência. Porque não há “ESEBA”s para
todas as crianças desse país onde, ao começo e fim de todas as gestões, os
políticos se ufanam em dizer que vão fazer ou que fizeram pela educação.
Palavra que, moeda corrente, banalizada, tem a dimensão de um produto qualquer.
E entram e saem governos, o que vemos de saldo no livro caixa, onde a grafia é contabilista, é
o parco investimento no “futuro da nação”.
Meu
filho vive já sua primeira greve. Eu tenho 51 anos, dos quais pelos menos 45
vividos dentro de escolas e esse continuísmo é sem dúvida de causar descrença,
desconfiança. Sinto uma não vontade em ouvir as explicações e justificativas de
nossos representantes com seus lugares-comuns, os quais repetidos à exaustão
exaurem as forças de nós, cidadãos, pais e professores que todos os dias, nós
sim, fazemos algo pela educação de nossos filhos e alunos.
Com
uma réstia de vontade que sobra, eu não peço, denuncio, e talvez, mais uma vez
fale para poucos, mas ainda torço e tento, embora a raiva e o desprezo me
tentem.
Senhores
e senhoras, responsáveis pelo presente e futuro do país, meus representantes, é
vergonhoso não pagar os salários daqueles que todos os dias, o dia inteiro, são
os que fazem pelo “futuro da nação”. Qualquer discurso político, com o sentido de
dizer que a educação é prioridade, é falacioso, diante desse descalabro.
Sim,
foi pago, mas depois de deflagrado um movimento de mobilização e sem a garantia
do emprego desses e de outros profissionais, pois que não foram autorizadas as
contratações.
Senhores
responsáveis – presidente, ministros, deputados, senadores, vereadores,
prefeitos-, representantes de minha vontade política, ao contrário de tentar se
esquivar da manutenção dos colégios de aplicação, pensem em como ampliá-los.
Não se equivoquem com esse socialismo torto em querer que todos tenham a mesma
chance e, então, se não dá para fazer a todos o melhor, que se divida, em
partes iguais, o pior.
Aumentar
o número de alunos por professor, não significa dar chances a um número maior
de crianças e jovens. Significa, sem dúvida, a precarização de um ensino de boa
qualidade. Nós temos assistido essa história e sabemos de suas conseqüências.
Não há necessidade de expô-las, pois que estão a décadas sendo denunciadas,
inclusive nos discursos daqueles que, quando candidatos, as exploram em seus projetos
para um “país do futuro”.
Os
colégios de aplicação, onde embora caibam poucos, é a experiência de
possibilidades educativas que, de forma direta e indireta, tem representado
vislumbre de uma escola séria, de qualidade, que se propõe mais que a
alfabetização, formar pessoas de “boa vontade”.Hoje esses colégios já
apresentam índices, segundo o do
Ideb/2009, projetados pelo governo para todas as escolas públicas que devem ser
atingidos até 2021. O que diferencia esses 17 colégios ligados às Universidades
do país é o número de alunos por sala, o regime de dedicação exclusiva dos
professores, a política de qualificação dos docentes que têm o compromisso com
o ensino, a pesquisa e a extensão.
Contratos
periódicos de substitutos levarão ao fim o projeto educacional dos colégios. Profissionais
que não têm assegurado seu emprego e o projeto que escolheram, não permanecerão
e, se o fizerem, nada garantirá a dedicação que por ora os qualifica. Na
educação, é a permanência de professores que cria os laços afetivos de
fundamental importância para os educandos e também é o que garante a
continuidade de projetos. Na educação não há projetos temporários que dêem
resultado. O resultado só é garantido quando o projeto é o da vida de cada um
dos educadores. É no cotidiano, de longa duração, que vidas serão compostas com
a devida e necessária segurança emocional e intelectual. Em contraposição à
fugacidade e à efemeridade da vida moderna, a escola é o lugar do tempo lento
porque cada vida é tratada na complexidade subjetiva que só o amadurecimento
das relações duradoras entre os profissionais e alunos pode garantir.
Na
sala de aula ao lado da de meu filho, de 4 anos, já passaram 5 professoras em
uma média de quase duas por mês. Se isso já é um problema sério para alunos
maiores, que se dirá, então, para crianças de tão tenra idade?
Hoje,
em função da não autorização de contratações de oito docentes, a escola esta
vivendo um momento de precarização do ensino.
Excelentissimos
Senhora
Presidente da República Dilma Rusself
Senhor
Ministro da Educação
Com
a certeza de que serei ouvida, em função de suas histórias de vida e de suas
promessas, espero, eu e todos aqueles que acreditam na boa vontade de vocês, um
olhar dedicado e delicado para a questão, e sua pronta e eficaz intervenção.
Transcrevo
abaixo, recortes de algumas passagens publicadas, nas quais fica claro que a
educação é tema e prioridade do governo atual.
10/02/2011 - 19h59
Educação é tema de primeiro pronunciamento
de Dilma à Nação
BRASÍLIA - A presidente
Dilma Rousseff estreia nesta noite, em cadeia nacional de rádio e televisão, o
novo slogan de seu governo: "País rico é país sem pobreza". Ela faz
seu primeiro pronunciamento à Nação, de 5 minutos e 46 segundos, com ênfase na
Educação, aproveitando o momento de volta às aulas em todo o país. "Quero
que a única fome neste país seja a fome do saber."
A nova marca do governo foi doada pelo publicitário João Santana e seu assessor, Marcelo Kertz, responsáveis pela campanha eleitoral bem-sucedida de Dilma ao Planalto. Segundo explicou a ministra de Comunicação Social, Helena Chagas, os publicitários não cobraram pelo slogan, que substituirá o "Brasil, um país de todos", do governo Lula.
Dilma destacou que sua "luta mais obstinada" será o combate à miséria. E miséria se combate educando crianças, jovens e adultos. "Nenhuma ferramenta pode ajudar mais a sair da miséria do que a Educação", afirmou.
Ela conclamou a sociedade a se unir em torno da Educação, pela melhoria da qualidade do ensino, por melhor formação e remuneração dos professores. "Esta é a grande hora da Educação brasileira", disse Dilma no pronunciamento.
A nova marca do governo foi doada pelo publicitário João Santana e seu assessor, Marcelo Kertz, responsáveis pela campanha eleitoral bem-sucedida de Dilma ao Planalto. Segundo explicou a ministra de Comunicação Social, Helena Chagas, os publicitários não cobraram pelo slogan, que substituirá o "Brasil, um país de todos", do governo Lula.
Dilma destacou que sua "luta mais obstinada" será o combate à miséria. E miséria se combate educando crianças, jovens e adultos. "Nenhuma ferramenta pode ajudar mais a sair da miséria do que a Educação", afirmou.
Ela conclamou a sociedade a se unir em torno da Educação, pela melhoria da qualidade do ensino, por melhor formação e remuneração dos professores. "Esta é a grande hora da Educação brasileira", disse Dilma no pronunciamento.
Ministro
da Educação afirma que salário de professor será prioridade no governo Dilma
FOLHA ONLINE 23/12/2010 12h29
O Ministério da
Educação do governo Dilma Russef deverá ter participação mais ativa nas
questões que envolvem o professor, informou o ministro Fernando Haddad à Folha
de São Paulo.
"A novidade é o
Plano Nacional de Educação, com 20 metas definidas em 170 estratégias [enviado
ao Congresso na semana passada]. Tem foco acentuado no professor. Uma das
metas é equalizar o salário com os outros profissionais de nível superior
[hoje, há diferença de 60%]."(grifo meu)
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